quarta-feira, 8 de junho de 2011

COMO EU PERDI A MINHA FÉ


COMO PERDI A MINHA FÉ


Quero agradecer a todos os amigos que leram a mensagem original sobre o assunto.
Foi uma demonstração de consideração por terem tido a paciência de ler até o fim aquela mensagem quilométrica e de compreensão por não me terem xingado de blasfemo
Como eu disse, não é meu objetivo debater com ninguém, provar que meu ponto de vista é o mais racional ou fazer ninguém mudar sua opinião. A única coisa que me levou a escrever foi a vontade de entender o seu pensamento e os motivos que os levaram a isso.
Eu estudei 3 anos a matéria Filosofia no curso clássico do Colégio Pedro II há 50 anos atrás. Isso marcou profundamente minha personalidade e aprendi a tentar entender o pensamento de cada um e tirar minhas próprias conclusões, sem aceitar dogmas, imposições ou afirmações sagradas e intocáveis.
Digo que isso marcou profundamente minha personalidade porque ela já estava completamente condicionada por uma criação religiosa muito severa, uma verdadeira lavagem cerebral que me foi imposta desde a mais tenra idade. Tinha dois anos de idade quando meus pais ingressaram na "Fraternidade Rosacruz", onde comparecíamos todos os fins-de-semana vestidos imaculadamente de branco e assistíamos a uma palestra ministrada por Dona Irene, a líder espiritual do grupo.
Nós estudávamos o livro "Conceito Rosacruz do Cosmo" e aprendíamos que tínhamos o corpo físico, o corpo de desejos, o corpo mental, etc. cada um habitando o respectivo mundo; mundo físico, mundo de desejos, mundo mental, etc. Claro que eram sete, a típica conta do mentiroso.
Nós não podíamos comer qualquer produto de origem animal. Nem carne, nem peixe, nem aves. Só leite e ovos.
Adotávamos muitos dogmas, como a hierarquia espiritual e a reencarnação e Dona Irene era um espírito evoluidíssimo que tinha poderes como ver e conversar com os espíritos e ler os pensamentos de todas as pessoas.
O sexo, o álcool. etc eram ofensas gravíssimas e imperdoáveis aos olhos de Deus.
Eu estudava muito a doutrina e me lembro de uma vez em que coube a mim falar para as outras crianças quando tinha dez anos de idade. Escolhi falar sobre a relação que eu percebia entre a eletricidade e o mundo dos desejos, algo inédito e que nunca fora cogitado. Dona Irene gostou tanto que tive que repetir minha palestra e Dona Irene mandou chamar todos os adultos para assistirem e para que se mirassem naquele exemplo. Fiquei todo cheio de mim!
Mas sempre carreguei comigo a suprema dúvida: Será que aquilo era tudo verdade ou não?
Aos doze anos de idade, eu tive uma idéia luminosa. Já que Dona Irene conseguia ler o pensamento de todos (e por isso todos controlavam seus pensamentos), eu resolvi propositadamente ter os pensamentos mais sujos, mais baixos, mais pecaminosos que eu pudesse imaginar durante uma reunião daquelas. Não tenho coragem de repetir aqui o que eu pensei, mas podem imaginar as coisas mais sujas, mais pornográficas, mais repugnantes que puderem. Foi o que eu pensei.
Era Dona Irene lá na frente e todos nós sentados nos bancos e eu fingindo que prestava muita atenção aos que era dito, mas com a mente chafurdando na lama.
Eu pensava: não é possível que ela esteja lendo meus pensamentos e não me interrompa ou me chame para uma conversa depois da cerimônia.
Esperei ansiosamente e nada aconteceu!
Foi uma decepção para mim e a constatação de que aquilo tudo era mentira!
Passei a frequentar escondido de meus pais a lanchonete "Palleta" onde sempre pedia misto quente e outros pratos com carne e continuei a frequentar a Fraternidade em respeito a meus pais até que eu tinha 16 anos quando meu pai também se convenceu de que aquilo era tudo mentira e nós nos retiramos da Fraternidade Rosacruz.

Desde os 12 anos eu sei que era mentira tudo aquilo que estudávamos e que nos era ensinado, mas a lavagem cerebral é muito, mas muito difícil mesmo de superar.
Eles ensinavam que todas as experiências da vida atual eram acumuladas no "perispírito", uma cópia astral do corpo físico e que era ligada ao corpo físico pelo "cordão prateado". Após a morte, essas experiências eram transmitidas do perispírito para o espírito por esse cordão prateado durante 3 dias.
Assim, se a pessoa morria carbonizada ou se era cremada, perdia todas as experiências da vida que acabara de terminar.

Vocês podem não acreditar, mas até hoje eu tenho receio de escolher a cremação ao invés do sepultamento porque fico nervoso e inseguro.
Eu sei que é tudo besteira e mentira, mas não posso evitar esse sentimento!

Por isso eu fiz questão de criar meus filhos sem influir na escolha de uma religião para eles.
Crianças são muito imaturas para terem esta ou aquela religião. Podemos falar de crianças filhas de pais católicos, protestantes, judeus, etc., mas nunca em crianças católicas, protestantes ou judias.

Da mesma forma, por que no Brasil a maioria da população é cristã, é budista no Tibet ou muçulmana na Arábia Saudita? Mesmo depois de adultos, nós não temos a livre escolha. Somos robôs programados.

Um abraço,

   Alzir Fraga

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